“Então, os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: ‘Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel’? Jesus respondeu: Não cabe a vocês saber o tempo e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade. Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão forças para serem minhas testemunhas em Jerusalém, na Judéia e em toda a Samaria, e até os extremos da Terra. Depois de dizer isto, Jesus foi elevado ao céu à vista deles.
E quando uma nuvem o cobriu, eles não puderam vê-lo mais. Os apóstolos continuavam a olhar para o céu, enquanto Jesus ia embora. Mas, de repente, dois homens vestidos de branco apareceram a eles e lhes disseram: Homens da Galiléia, por que vocês estão aí, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que foi tirado de vocês e levado para o céu virá do mesmo modo com que vocês o viram partir para o céu”.
Neste domingo, a Igreja celebra a festa da Ascensão do Senhor. Palavra que quer significar a subida, a elevação de Cristo aos céus. Diante dos olhos de seus discípulos Jesus ergue aos céus. Momento em que Ele revela mais uma vez a sua condição Divina e a sua entrada triunfante no Reino do Pai.
Em sua homília na Festa da Ascensão em 2009, o Papa Bento XVI afirmou que “Na Ascensão de Cristo ao Céu, o ser humano entra numa nova intimidade com Deus, sem precedentes. O homem encontra agora, e para sempre, espaço em Deus. O ‘Céu’ não é um lugar sobre as estrelas, mais uma coisa muito mais ousada e sublime: é o próprio Cristo, a Pessoa Divina que acolhe plenamente e para sempre a humanidade, Aquele no qual Deus e o homem estão inseparavelmente unidos para sempre”.
É, pois, a Festa da Ascensão, também o sinal da elevação do ser humano a Deus. Primeiro Cristo e, depois dele, todos os que no seu Nome, vida e sangue foram reconciliados com Deus. É uma prefiguração de toda ação escatológica, para a qual tende a vida da Igreja: “Somos cidadãos do céu”. E como nos afirma Paulo em seus escritos “Se com Cristo morremos, também com Ele viveremos” (cf. Rm 6,8).
A Festa da Ascensão relembra, ainda, a cada cristão, que suas cabeças devem estar erguidas diante das dificuldades da vida, recordando a vitória final, após o sofrimento, ao mesmo tempo em que ensina e envia para a vida. Os discípulos olhavam para o céu, enquanto Jesus subia (mística do reconhecimento do senhorio divino de Nosso Senhor), mas tão logo são enviados ao mundo para a vida que continua, com a esperança escatológica de sua volta gloriosa, tal qual Ele havia subido. A vida continua, a presença do Ressuscitado é uma presença espiritual que renova a esperança e reacende a chama da fé e do amor. É o encontro da humanidade com a divindade de Cristo. É a união do céu e da Terra! Tudo o que Pedro, chefe dos apóstolos, ligar na Terra será ligado no céu. Tudo que se desligar na Terra será desligado no céu (cf. Mt 16, 16ss). É o encontro do tempo e da eternidade; do passageiro e do eterno.
A ascensão se liga ao pastoreio de Jesus, bom pastor, único e eterno sacerdote, que deseja reconduzir suas ovelhas ao aprisco e devolver-lhe a dignidade manchada e ferida pelo pecado. Ela não trata de uma ausência de Jesus na história humana, mas uma prefiguração de nossa história mergulhada na eternidade que não se acaba, indicando-nos a direção à qual tendemos. A Igreja não se funda na ausência de seu Senhor, mas na certeza de sua presença à direita do Pai, soberano e senhor do tempo, da história e da eternidade; na certeza de sua presença sempre constante e operante pela presença do Espírito Santo, o Paráclito, o Espírito da verdade que Ele envia sobre os discípulos reunidos no cenáculo.
A ascensão, diz o papa, “relembra a transcendência da Igreja”, enquanto ela constrói e trabalha pelo Reino de Deus, na vida e na história, ela marcha rumo ao seu destino definitivo na eternidade, que é Cristo mesmo. O Céu, mais que um lugar, é o próprio Cristo, com o Pai e o Espírito Santo. Jesus sobe, envia os seus discípulos a pregarem o Evangelho e faz descer o seu Espírito, garantindo a sua presença constante na história, e nunca a sua ausência. Ele é presença que não se desfaz.
Nossas comunidades devem ser inflamadas nessa realidade: o Senhor e Cristo, ressuscitado, subiu aos céus, está à direita do Pai, mas não nos deixou órfãos; enviou seu santo Espírito para ser consolador e incentivador de nossa missão de continuar, na história, a construir o Reino que não tem fim.
É nessa esperança que vive a Igreja de Cristo, com Maria e toda a nuvem dos escolhidos e santificados no sangue do Senhor, clamando, ação magnífica do Espírito do Senhor, a volta definitiva e gloriosa de seu Senhor e Cristo. “O Espírito e a esposa dizem: Vem, Senhor Jesus!” e, aquele que ouve diga também: Vem, Senhor Jesus, Maranathá!
D. Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro, RJ
Fonte: CNBB
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