Acupuntura e religião: posição oficial da Igreja sobre este assunto
Com certa freqüência tem-se perguntado a respeito da compatibilidade do uso da terapia chamada ‘acupuntura’ com a fé católica. Gostaria de fazer algumas considerações a respeito para dirimir a sombra de dúvida que paira sobre essa questão.
De início, tenhamos presente que nossa cultura ocidental desconhece as nuances e naturalmente se esquiva com relação àquilo que conhecemos do oriente. Não apenas no campo antropológico onde notamos a gritante diferença de pensamento por causa da noção mais ‘interior’ do homem oriental em contraposição ao ‘exteriorismo’ do homem ocidental (isso se torna ainda mais gritante nos povos latinos). Isso, porém não deve impedir que estudemos aquilo que de bom podemos colher das culturas que são diferentes da nossa.
A acupuntura tem suas raízes na China. A prática milenar nasceu em meio a uma grande mistura de crenças, mitos e religiões. Constata-se que na origem e desenvolvimento da técnica estejam presentes pessoas que professavam algumas das religiões mais celebradas na China: Budismo, Confucionismo e Taoísmo.
Desta feita, será inevitável avaliar que ao trazer a prática para o Brasil, os acupunturistas chineses traziam também os aspectos culturais, filosóficos e doutrinais. Existia, portanto, uma grande rejeição da prática por causa desses fatores. Recentemente, todavia, constatou-se que muitos dos aspectos técnicos da acupuntura não contradiziam a quanto fora descoberto por parte da ciência médica tradicional no ocidente. Sendo assim, a OMS (Organização Mundial da Saúde) admitiu a acupuntura como ciência e/ou medicina complementar. Desta forma, devemos fazer duas distinções:
Acupuntura como medicina complementar e Acupuntura como desdobramento filosófico-religioso de um tratamento de saúde.
A Doutrina da Igreja Católica não destitui o papel nem a importância da ciência médica em geral. A palavra de Deus garante que Deus também pode curar através dos médicos (Eclo. 38,1; Mt.9.12). O cuidado com a própria saúde e o próprio corpo são recomendações vivas na Igreja (CIC 367) e nas Sagradas Escrituras (1 Tess. 4,4).
Todavia, para o católico consciente, o uso da acupuntura enquanto terapia que contemple o lado religioso seria uma confusão doutrinal e ideológica. Não apenas pelo fato doutrinal e bíblico, mas até no nível racional e humano: a mistura arbitrária de princípios religiosos prejudica o homem e até piora seu eventual estado de saúde! Logo, a acupuntura mesclada com seu aspecto religioso deve ser evitada pelo cristão católico.
O que fazer, portanto?
A atitude mais sensata seria averiguar o profissional que aplica tal técnica. Hoje em dia há pessoas muito esclarecidas no campo científico e fiéis aos princípios católicos que estudam a ciência da acupuntura. Seria, no mínimo, ingenuidade imaginar que ‘todos’ os que se especializaram em acupuntura sejam propagadores das religiões orientais. Há profissionais que sabem separar as duas coisas.
Logo, se o profissional em questão tiver formação suficiente para separar as duas coisas, será perfeitamente capaz de aplicar os conhecimentos científicos sem contaminar o discurso com idéias opostas à doutrina católica. Sendo assim, não há impedimento bíblico, doutrinal ou moral para o católico fazer uso da técnica.
Pe. Delton Filho
Bacharel em Filosofia e Teologia pelo APRA de Roma, Itália.
Fundador da Comunidade Coração Fiel
Fonte: cancaonova
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