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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Carroça

Uma das grandes preocupações de nosso pai, quando éramos pequenos, consistia em fazer-nos compreender o quanto a cortesia é importante na vida.
Por várias vezes percebi o quanto lhe desagradava o hábito que têm certas pessoas de interromper a conversa quando alguém estava falando. Eu, especialmente, incidia muitas vezes nesse erro.
Embora visivelmente aborrecido, ele, entretanto, nunca ralhou comigo por causa disso, o que me surpreendia bastante.
Certa manhã, bem cedo, ele me convidou para ir ao bosque a fim de ouvir o cantar dos pássaros. Acedi com grande alegria e lá fomos nós, umedecendo nossos calçados com o orvalho da relva. Ele se deteve em uma clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:
-- Você está ouvindo alguma coisa além do canto dos pássaros? Apurei o ouvido alguns segundos e respondi:
-- Estou ouvindo o barulho de urna carroça que deve estar descendo pela estrada.
-- Isso mesmo... disse ele. É uma carroça vazia...
De onde estávamos não era possível ver a estrada
e eu perguntei admirado:
-- Como pode o senhor saber que está vazia?
-- Ora, é muito fácil saber que é uma carroça vazia.
Sabe por que?
-- Não! respondi intrigado.
Meu pai pôs-me a mão no ombro e olhou bem no fundo dos meus olhos, explicando:
-- Por causa do barulho que faz. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Não disse mais nada, porém deu-me muito em que pensar.

Tornei-me adulto e, ainda hoje, quando vejo uma pessoa tagarela e importuna, interrompendo intempestivamente a conversa de todo o mundo, ou quando eu mesmo, por distração, vejo-me prestes a fazer o mesmo, imediatamente tenho a impressão de estar ouvindo a voz de meu pai soando na clareira do bosque e me ensinando:

Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!

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